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Punhos cerrados: história olímpica é recheada de casos políticos

Braços levantados, gritos e atletas de joelhos. História olímpica é recheada de protestos e gestos políticos de atletas, treinadores, torcedores e do próprio COI

Aécio de Paula
Colaborador do Torcedores.com.

Braços levantados, gritos e atletas de joelhos. História olímpica é recheada de protestos e gestos políticos de atletas, treinadores, torcedores e do próprio COI

Na última quinta-feira (9), o Comitê Olímpico Internacional (COI) deu a letra para uma nova polêmica. A entidade anunciou novas diretrizes que proíbem atletas de fazer manifestações políticas, religiosas e étnicas. A regra começa a valer de forma mais rígida já nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020. Mas se enganou quem pensou que a decisão do COI seria uma espécie de ponto passivo. Acontece que a decisão de proibir manifestações, gerou manifestações.

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A jogadora Megan Rapinoe foi o maior nome a se manifestar de forma contrária ao assunto proposto pelo COI. Mas ela não estava sozinha. Vários atletas e ativistas criticaram a decisão. “Não vão nos calar”, disseram muitos. O fato é que os Jogos Olímpicos de Tóquio vão acontecer em meio a uma série de tensões no mundo todo. Crise dos refugiados, tensão com o Irã, crise na Venezuela, na Catalunha e em Hong Kong. A maior potência do mundo viverá um processo eleitoral alguns meses depois dos Jogos.

Com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, é portanto difícil acreditar que os atletas ficarão calados. Mas o COI acredita que os Jogos devam funcionar justamente como uma pausa em toda essa confusão. O próprio presidente da entidade, Thomas Bach, ratificou essa opinião.  “As Olimpíadas não são e nunca devem ser uma plataforma para promover fins políticos ou outros fins divisivos”, disse ele. “Nossa neutralidade política é prejudicada sempre que organizações ou indivíduos tentam usar os Jogos Olímpicos como palco para suas próprias agendas, por mais legítimas que possam ser”, completou

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Política

Se os atletas obedecerão ao COI, não tem como saber ainda. A resposta mesmo só será conhecida nos próximos meses de julho e agosto em Tóquio. Mas enquanto a pira olímpica não é acesa, nos resta olhar para o passado. E ele não é favorável ao desejo do COI. Isso porque não há como falar da história dos Jogos Olímpicos sem falar de política.

1936 – A primeira queda de Hitler

O ano era 1936. Os Jogos Olímpicos estavam sendo realizados na Alemanha. Mas não era qualquer Alemanha. Era a Alemanha nazista de Adolf Hitler. O ditador austríaco tentou usar os Jogos como uma vitrine alemã para o mundo. O objetivo era portanto mostrar que a Alemanha “não era aquilo tudo o que se pregava na imprensa internacional”.

Mas foi um norte-americano do atletismo que acabou roubando a cena. Jesse Owens conquistou ouro nas provas de 100 metros, 200 metros, salto em distância e revezamento 4×100 metros. Mas tinha mais um detalhe: ele era negro. Suas sucessivas vitórias foram portanto um banho de água fria na teoria de separação de raças pregada por Hitler.

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1968: Punhos cerrados contra o racismo

O final da década de 1960 registrava uma série de convulsões sociais. O movimento de maio de 68 eclodia na França, o Brasil entrava em um período repressor da ditadura militar e os Estados Unidos traziam o racismo para o centro do debate. Além disso, o assassinato de Martin Luther King elevou as tensões no país.

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No México, durante os Jogos Olímpicos de 1968, uma imagem marcou a história olímpica. Os norte-americanos Tommie Smith e John Carlos conquistaram ouro e bronze na prova dos 200 metros rasos. No pódio, os dois levantaram as mãos com os punhos cerrados. Ficaram daquela maneira durante todo o hino norte-americano. Os dois atletas foram expulsos do evento. Isso porque, na época, a proibição para manifestações já existia.

1972: Um dia de terror

Guarde esse dia: 5 de setembro de 1972. Trata-se do dia do maior pesadelo da história das Olimpíadas. A cidade de Munique, na Alemanha, recebia os Jogos. Até aquele momento tudo estava acontecendo normalmente. Mas o sucesso dos Jogos foi interrompido por uma sequência de tiros.

Oito terroristas da Palestina invadiram a Vila Olímpica e sequestraram 11 atletas de Israel. O saldo foi portanto o pior possível. Os 11 israelenses, cinco palestinos e mais um policial terminaram mortos.

1980 – 1984: Os boicotes

O mundo não falava em outra coisa: A Guerra Fria. O acontecimento que colocou dois pólos antagônicos em evidência. Capitalismo e Socialismo disputavam o poder. O esporte não ficou alheio. Os Estados Unidos se negaram a participar dos Jogos Olímpicos de Moscou, na antiga União Soviética, em 1980.

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Como resposta, a União Soviética não foi aos Jogos de 1984, em Los Angeles. Os dois boicotes comprometeram duramente a qualidade técnica das duas edições olímpicas. Isso porque Estados Unidos e União Soviética reuniam os melhores atletas do mundo na época.

2004: “Não luto”

Nos Jogos de Atenas, a relação Irã e Israel entrou em cena. Um dos mais importantes atletas do judô na época ficou em evidência. O campeão mundial Miresemaeli se recusou a lutar contra o israelense Ehud Vaks. “Embora eu tenha treinado há meses e esteja em boa forma, me recusei a lutar contra meu oponente israelense para simpatizar com o sofrimento do povo da Palestina e não me sinto nada chateado”, disse Miresmaeili à época.

As relações entre Irã e Israel são complicadas desde a Revolução Islâmica, em 1979.

2016: Um recado ao Mundo

Não são só os atletas que produzem mensagens políticas ao mundo. A Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos de 2016 apostou em passar mensagens políticas. Preservação do meio ambiente e diversidade foram alguns dos temas trazidos pelo próprio comitê olímpico. Na época, um dos produtores da festa falou sobre o assunto. “Pessoas como Donald Trump não vão gostar da Cerimônia”, disse Fernando Meirelles.

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Anos mais tarde, o COI seguiu a escalada política. Ao unir as duas Coreias na Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos de Pyeongchang, em 2018, o comitê conseguiu, acima de tudo, um gesto político.

Tóquio 2020

Seja como for, os Jogos Olímpicos de Tóquio estão na rota dos protestos. Resta saber se eles acontecerão ou não. Para atletas como Rapinoe, eles acontecerão. Para Thomas Bach, não. Não se sabe aonde essa discussão vai parar. Mas já dá pra saber que ela não vai parar. Afinal, sempre foi assim na história das Olimpíadas.

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