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Foto: Alexandre Vidal/Fla Imagem
Na última semana, Ronaldinho Gaúcho anunciou sua aposentadoria dos gramados, depois de dois anos sem atuar em uma partida oficial. Depois de passagens por Grêmio, PSG, Barcelona e Milan, o craque teve uma de suas passagens mais conturbadas por um clube: o Flamengo.
A chegada
As polêmicas já começaram na negociação com o Flamengo. Em baixa no Milan e decepcionado pela não convocação para a Copa do Mundo de 2010, Ronaldinho decidiu mudar de ares no final daquele ano. O meia recebeu propostas de Grêmio, Palmeiras e Flamengo. A cada dia, seu irmão e empresário Assis afirmava que ele estava próximo de um clube diferente. O tricolor gaúcho chegou a montar uma festa de apresentação para o jogador no Estádio Olímpico e, no mesmo dia, teve que retirar os equipamentos do estádio.
Apresentação de jogador com caixas de som e eu só lembro de… “Presidente gremista ordena retirada de caixas de som do Olímpico” pic.twitter.com/CazpegvJfj
— Dryzinho Varejão (@Dryzinho_praero) December 27, 2016
No dias 10 de janeiro de 2011, o futuro do jogador finalmente foi selado. Depois de uma negociação que varou a madrugada, a presidente do Flamengo Patrícia Amorim anunciou o acerto com o jogador.
“O Flamengo tem de ser grande. Em cada modalidade nós temos um grande ídolo, faltava o futebol, que é o nosso carro-chefe. O Flamengo pode comemorar, o Ronaldinho Gaúcho é nosso. Amanhã quero todo mundo na rua com a camisa rubro-negra”, anunciou a presidente.
A apresentação do craque foi marcada por festa e confusões, como num prenúncio do que viria a ser sua passagem pelo clube. O rubro-negro montou um palco no Estádio da Gávea para apresentar o jogar à sua torcida. Durante o evento, que teve a presença de cerca de 20 mil pessoas, um dos portões do clube foi arrombado. R10 foi recepcionado por celebridades rubro-negras, como Dudu Nobre, Ivo Meirelles e até mesmo o jogador Vágner Love, que estava no CSKA Moscou na época.
O valor da negociação foi de 8 milhões de euros (cerca de R$ 17 milhões à época) e o jogador acertou um contrato de três anos e meio, com salários de mais de R$ 1 milhão, sendo 80% pagos pela Traffic e 20% pelo Flamengo.
Primeiro jogo
Apesar de ter acertado com o rubro-negro no começo de janeiro, Ronaldinho só foi estrear pelo clube em 2 de fevereiro. Isso porque o contrato do patrocinador master terminava no dia anterior e o clube queria usar o apelo da estreia de R10 para conseguir mais dinheiro de patrocínio. Assim, a estreia do jogador se deu no Engenhão, pela 5ª rodada da Taça Guanabara, contra o Nova Iguaçu. O craque teve uma atuação apagada na vitória por 1 a 0, gol de Wanderley.
Primeiro gol pelo Flamengo
O primeiro gol com a camisa rubro-negra não demorou muito a sair. Foi logo em seus segundo jogo pelo clube. O Flamengo enfrentou o Boavista em Macaé pela 6ª rodada da Taça Guanabara. Após lançamento de Thiago Neves, Deivid sofreu pênalti. Ronaldinho cobrou no canto direito do goleiro, que pulou para o outro lado.
Título carioca invicto e o “Bonde do Mengão Sem Freio”
O Boavista seria a vítima do primeiro título de R10 pelo rubro-negro carioca. A equipe chegou à final da Taça Guanabara após vencer o Botafogo nos pênaltis na semifinal. Contra o Boavista, o meia marcou o único gol do jogo, numa cobrança de falta perfeita.
A conquista da Taça Rio também veio nos pênaltis. Tanto na semifinal, contra o Fluminense, quanto na final, contra o Vasco, o Fla venceu nas penalidades, se tornando, assim, campeão invicto pela quinta vez em sua história. Ronaldinho marcou quatro gols na campanha do título carioca.
O começo do craque no rubro-negro foi animador. Com um título e uma invencibilidade que duraria até maio, o Flamengo ganhou homenagem de cantores cariocas de funk, que lançaram a música “Bonde do Mengão Sem Freio”. A canção foi febre no Rio de Janeiro e inspirou, inclusive, composições de outros times Brasil afora.
Até mesmo o menino Lucas Paquetá, então com 13 anos de idade, criou sua versão da música e postou em suas redes sociais. Recentemente, a torcida rubro-negra encontrou o vídeo e começou a compartilha-lo como o “Paquetazinho da sorte”.
Início avassalador no Brasileirão e campanha irregular
Após o Carioca, a equipe focou suas atenções no Brasileirão. Nesse meio tempo, o rubro-negro caiu precocemente na Copa do Brasil, sendo eliminado pelo Ceará nas quartas de final. No campeonato Brasileiro, o começo foi muito bom. O time estabeleceu um recorde de começo sem derrotas que só veio a ser quebrado pelo Corinthians em 2017: o Flamengo passou as 16 primeiras rodadas do Brasileirão sem saber o que era ser derrotado. Dentre esses jogos, esteve o primeiro reencontro de Ronaldinho com o Grêmio. No Engenhão, o Fla venceu por 2 a 0, com o camisa 10 marcando o segundo gol da vitória.
A primeira derrota só foi acontecer em agosto, para o Atlético-GO. Mas uma derrota acachapante. O rubro-negro carioca foi derrotado em casa por 4 a 1 para o rubro-negro goiano. Depois disso, o time de Vanderlei Luxemburgo começou a alternar partidas fantásticas com jogos em que a equipe parecia irreconhecível. A derrota para o Atlético-GO iniciou uma série de dez partidas sem vitória para o Flamengo. Depois disso, o time ainda chegou a fazer grandes atuações, como a vitória por 5 a 1 sobre o Cruzeiro, e a mais emblemática de todas: a vitória por 5 a 4 sobre o Santos de Neymar na Vila Belmiro, com três gols de R10.
O Flamengo terminou o Brasileirão em quarto lugar, sem brigar pelo título e ainda viu seu maior rival, o Vasco terminar o campeonato em segundo lugar, brigando com o Corinthians pela liderança até a última rodada. Ao lado de Thiago Neves e Deivid, Ronaldinho foi o artilheiro do clube no ano, com 21 gols.
Demissão de Vanderlei Luxemburgo e queda precoce na Libertadores
A pré-temporada para 2012 foi marcada por polêmicas. Primeiro, a Traffic, que seria responsável por 80% do salário do jogador, decidiu não pagar mais o atleta. O camisa 10 chegou a ficar cinco meses sem receber a parte que cabia à empresa. Depois de muita negociação, o Flamengo optou por pagar o valor devido pela Traffic e se comprometeu a pagar os salários inteiros do meia dali em diante.
Em Londrina, onde o clube fazia sua pré-temporada, o jogador foi flagrado levando uma mulher para seu quarto na concentração. A partir dali, a relação com o técnico Vanderlei Luxemburgo ficou estremecida. Na pré-Libertadores, o Flamengo enfrentou o Real Potosí. Na Bolívia, Ronaldinho não treinou, alegando diarreia. O relacionamento com o treinador ficou insustentável e o comandante acabou demitido em fevereiro daquele ano.
“Foi o processo mais feio que já vivi. Fritura mesmo. Na virada do ano, disse que seria difícil conviver com algumas coisas que ocorreram no ano passado. Falei que não conviveria com isso aqui. Eu mudei, comecei a colocar as coisas no seu lugar. Se a diretoria não mudou, não é problema meu”, afirmou Luxa em entrevista coletiva após sua demissão.
Nem mesmo a saída do desafeto serviu para motivar o camisa 10. A irritação com os constantes atrasos no pagamento era evidente. Tanto que, em um treino, ele chegou a desabafar com o preparador físico do clube: “fazer isso tudo sem estar recebendo é f***”. Os atrasos e faltas a treinos eram constantes. Em campo, as coisas não funcionavam. O Flamengo foi eliminado nas semifinais da Taça Guanabara e da Taça Rio para o Vasco. Na Libertadores, o time não conseguiu passar da primeira fase, num grupo que tinha Lanús, Emelec e Olímpia. O jogador também se envolveu com polêmica com Joel Santana, ao dizer após uma partida que a entrada de Deivid havia melhorado a equipe. Joel Santana foi à imprensa dizer que só que ele próprio estava autorizado a falar de tática publicamente.
A situação começou a ficar insustentável na segunda metade de maio. Sem paciência com a falta de pagamento dos salários, o irmão de R10, Assis, foi à loja oficial do clube e saiu de lá com dezenas de camisas oficiais sem pagar. O empresário do jogador alegou: “se o Flamengo não paga meu irmão, então eu também não vou pagar [as camisas]”. No dia 31 de maio, o camisa 10 não viajou ao Piauí, onde a equipe faria um amistoso. Pouco tempo depois, surgiu a notícia de que Ronaldinho entrava na Justiça, cobrando R$ 40 milhões do clube. R10 rescindia seu contrato e terminava ali sua passagem pelo Fla. Pouco tempo depois, o jogador assinou contrato com o Atlético-MG, onde seria campeão da Libertadores no ano seguinte.
Fracasso de marketing
Quando chegou no Flamengo, a diretoria acreditava que Ronaldinho impulsionaria o marketing do clube.
“A verdade é que a negociação é um excelente negócio para todo mundo. O Flamengo terá o que já teve em 2010, ganhou um Ronaldinho Gaúcho e ainda uma parcela de toda a receita extra que entrar no clube. E vai pagar um preço muito baixo por isso”, afirmou um representante do clube em entrevista ao Jonal Extra, em 14 de janeiro de 2011.
Só em patrocínios, o rubro-negro esperava lucrar R$ 56 milhões, o dobro do que havia lucrado em 2010. Além disso, o Fla esperava aumentar as receitas com bilheteria e contratos de direitos de transmissão. O clube também contava com Ronaldinho para participar de várias ações de marketing e para internacionalizar a marca do clube. Acabou que nada disso aconteceu.
O Flamengo passou o ano de 2011 inteiro sem um patrocinador master na camisa. Ronaldinho raramente aparecia fora das quatro linhas. Como capitão da equipe, o camisa 10 raramente aparecia para dar entrevistas em momentos de crise. O clube nunca conseguiu engajar o jogador em uma equipe de marketing. Ao contrário do que se pensava, a contratação de Ronaldinho não se pagou. Pelo contrário, o clube só saiu prejudicado com os 17 meses de estada do R10 na Gávea.
Números de R10 no Flamengo
Ronaldinho Gaúcho disputou 74 jogos pelo Fla, sendo 36 vitórias, 26 empates e 12 derrotas. Ele marcou 28 gols e conquistou os títulos da Taça Guanabara, da Taça Rio e do Campeonato Carioca, ambos em 2011.
